segunda-feira, 22 de março de 2010

planeta

Somos hoje quase 7 bilhões na face da Terra, 3 bilhões a mais do que no dia em que o homem pisou na Lua, em 1969. Em 2050, poderemos atingir 10 bilhões, 3 bilhões a mais do que hoje. Diante do empobrecimento das reservas de água doce, das repetidas crises alimentares e das mudanças climáticas, muitos hoje ousam brandir uma bandeira-tabu: o controle global dos nascimentos

Pela primeira vez na história, as cidades se preparam para abrigar um número maior de habitantes do que o campo. Uma nova era começa: os 3 bilhões de indivíduos que nascerão até 2050 irão todos viver na cidade, a maior parte deles em favelas, prevê a ONU. Passar de 7 bilhões para 10 bilhões de habitantes significa que saquearemos a Terra nessa mesma proporção? É provável. Diante dessa perspectiva, volta-se a falar do controle da natalidade. Parar de produzir crianças para salvar o planeta? Sim, é claro! Mas será ético? Será prático? O regime autoritário da China tem larga experiência a esse respeito. A explosão da população mundial é um perigo em si mesma? Ou preocupa por implicar uma explosão proporcional da miséria? O capitalismo global, ideologia hoje dominante no planeta, saberá enfrentar esse desafio?

A comida em primeiro lugar. Segundo projeções da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), as necessidades alimentares da Ásia e da América do Sul dobrarão até a metade deste século. A África - cuja população poderá dobrar até 2050 - terá de multiplicar por cinco sua produção agrícola atual para nutrir decentemente seus filhos. O bilhão de terráqueos que sofrem de desnutrição vive nesses três continentes, nos quais as nações autossuficientes se contam nos dedos da mão. A agricultura e o desflorestamento já respondem por quase um terço das emissões humanas de gases de efeito estufa.


Verdadeiro pensador iconoclasta, o cientista britânico James Lovelock é cada vez mais respeitado. Ele foi um dos primeiros a defender a ideia de que a Terra se comporta como um organismo vivo, um sistema autorregulador composto de elementos físicos, químicos e biológicos. Em seu livro mais recente, Gaia: alerta final (Editora Intrínseca), ele afirma que já passamos do ponto sem retorno, e que é impossível salvar o planeta como o conhecemos no presente.
A energia vem a seguir. A Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que será preciso aumentar a produção energética planetária em mais de 50% de hoje a 2030 e quase dobrar a produção de eletricidade. Sem uma transformação radical das nossas maneiras de produzir e de consumir energia - revolução extremamente hipotética -, a AIE não esconde que o essencial desse crescimento será alimentado pelas três energias mais baratas, mais fáceis de ser obtidas e... mais poluidoras: petróleo (+41%), gás natural (+68%) e carvão (+103%). Todas elas não são renováveis. Se o caminho a seguir for esse, a AIE aposta na duplicação das emissões de gases-estufa ligados à energia em menos de uma geração. E é preciso lembrar: segundo opiniões abalizadas, já agora a "pegada ecológica" humana excede em 30% a capacidade biológica de regeneração da Terra. Se a humanidade adotasse o modo de vida dos países mais ricos, seriam necessários entre 3 e 5 planetas para suprir as necessidades de todos. Imagine-se o que acontecerá quando, em cerca de 40 anos, mais 3 bilhões de indivíduos viverem espremidos nas cidades... E se esses cidadãos quiserem tomar banho e comer carne todos os dias, tomar um avião quando quiserem visitar a mãe, dispor de um automóvel e de uma casa na praia - como o estado do planeta poderá não piorar? E piorar até o ponto de ruptura?

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