segunda-feira, 4 de outubro de 2010

teorias art

O medo pode ser medido e serve de indicador do comportamento futuro dos mercados financeiros. O “índice do medo” tem já vários anos de rodagem nas mãos de um dos seus criadores, o psiquiatra, especialista em software, e financeiro Richard L. Peterson.
“Esse índice está inversamente correlacionado com a direcção futura dos mercados financeiros – quando o medo é elevado, tais mercados tendem a cair nas semanas seguintes”, diz-nos Peterson, um texano de 37 anos, um dos fundadores em 2002 da consultora americana Market Psych e em 2008 do hedge fund MarketPsy Capital, baseados na Califórnia. “Contudo, há excepções – como aquando da derrocada de 2008”, adverte.
O índice do medo, desde o ano 2000, revela, por ordem decrescente, os picos mais altos em 15 e 16 de agosto de 2007 (na sequência da suspensão dos três fundos de investimento do banco francês BNP Paribas), 10 de outubro de 2008 (primeiras semanas do Plano dos $700 mil milhões aprovado pelo Congresso norte-americano alegadamente para evitar a “catástrofe” financeira), 17 de setembro de 2008 (na sequência da bancarrota do Lehman Brothers nos Estados Unidos e da crise do HBOS inglês, no período do auge do pânico financeiro), e 2 de março de 2007 (na sequência do anúncio dos primeiros problemas com o subprime norte-americano), coincidindo com períodos de quebra do índice Dow Jones de Wall Street.
Ler “sinais”
Este índice mede diversas palavras, tópicos, tempos dos verbos e outros “sinais” textuais sintomáticos de medo que surgem nos media financeiros relacionadas com a situação dos mercados. Peterson explica que o modelo dispõe de “muito mais sinais psicológicos do que só o medo – apesar do nome de baptismo do índice”. Na verdade, o modelo lida com 60 “sinais”.
E por media entende-se não só os tradicionais, mas também os blogues, as próprias mensagens de 140 caracteres no Twitter, os comunicados e PDF de resultados de empresas, as fichas da US Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de valores mobiliários norte-americana) e os relatórios de analistas. Por exemplo, “pânico” é uma palavra recorrente nos períodos de derrocada bolsista. Tal como “medo” (a própria palavra do índice), “ansiedade” ou “crise de confiança”. Por ora, o índice da Market Psych apenas rastreia escrita em inglês e relativamente a 6.000 empresas presentes nos mercados financeiros americanos.
Inteligência emocional
Peterson acha que esta área é crucial para a inteligência nos negócios, para a business intelligence (no original, em inglês). “Ela permite-nos compreender muitos tipos de comportamento de risco financeiro ou mesmo baseado no valor”, explica. A psicologia é fundamental para a prática financeira. Os melhores consultores financeiros não lidam sobretudo com números, lidam com inteligência emocional, insiste o psiquiatra-financeiro.
Olhando para o estado de alma actual nos mercados, Peterson diz que o “Índice de Medo está baixo, contrariando uma alta recente em Maio”, aquando do pico da crise da dívida soberana na zona euro. Esse baixo medo actual pode “sinalizar um mercado em alta (bull, na linguagem de Wall Street) no curto prazo, mas tenho de sublinhar este ‘curto prazo’, pois deverá voltar a contrariar a tendência actual durante vários meses, dado que mais incerteza permanece”.
Não esquecer que “extraordinariamente incerto” foi a expressão usada, recentemente, pelo presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, para testemunhar sobre o clima económico perante o Congresso americano. E que o temor ao double-dip(recaída na recessão) ou a hipótese de uma vaga mundial de defaults na dívida soberana são temas fraturantes no debate público entre economistas e políticos.
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Eventos psicológicos
Peterson anda a estudar a mente do investidor há vários anos. Meteu-se “dentro” dela e verificou que “há predisposições biológicas para tomar decisões financeiras de certa maneira baseadas na informação que se recebe”. Uma das situações que verificou é que “muita gente fica altamente tensa face a perdas e arriscará ainda mais nessas situações no sentido de recuperar essas perdas”.
Fruto das suas investigações publicou há três anos ‘Inside the Investor’s Brain: The Power of Mind over Money’ (Wiley) que a revista financeira americana Barron’s considerou, então, como “notável”. A abordagem de Peterson tem permitido ao hedge fund que criou identificar “eventos psicológicos” que indiquem boas oportunidades de negócio bolsista.
Ele admite que o enquadramento objectivo de incentivos e regras (como as existentes durante a última vaga de financeirização que motivaram os agentes financeiros para comportamentos de alto risco) define o campo em que as pessoas se movem, mas “a psicologia individual e a psicologia de massas governa a forma como os agentes se comportam”. Por vezes, os incentivos podem transformar-se no seu contrário, em desincentivos. “Ou seja, os incentivos são dinâmicos, tal como a nossa interpretação sobre eles”, acrescenta.
Só se vê à frente do nariz
E dá um exemplo com duas faces: “Todos ‘sabemos’ que conservar ações baratas para o longo prazo é a estratégia de investimento óptima nestes períodos de derrocada. Contudo, pouca gente se sente incentivada a fazê-lo sobretudo quando os preços caiem diariamente à frente dos nossos olhos”. O resultado da química no cérebro das nossas hormonas de stresse é conhecido: entra-se em pânico e vende-se. “É também a melhor altura para comprar ações baratas – mais uma vez, todos ‘sabemos’ disso. Mas as pessoas não o farão porque os seus incentivos mudaram de uma atitude de procurar oportunidades para outra, a de assegurar a protecção do dinheiro que têm”. Só se vê o que está à frente do nariz – é a psicologia que nos domina nestas alturas.
Fogem à regra, apenas, os investidores a contra-corrente que se esquivam ao comportamento colectivo “em manada” ou “multidão”, os que olham sempre para o longo prazo e que aprendem sistematicamente com os erros. Na apresentação do livro de Peterson, o psiquiatra David Nathan chamou “neuroplasticidade” a essa arte.
PERFIL
Richard L. Peterson misturou vários ingredientes da sua carreira para chegar a este modelo de negócio: psiquiatria (médico residente no San Mateo Medical Center), engenharia electrónica, tendo desenvolvido software de previsão de mercado baseado em redes neuronais, e tarimba de negociação em bolsas, mercados de futuros e opções antes de criar o seu próprio hedge fund. O seu pai era professor de Finanças, por isso o tema era prato forte na sala de jantar.
Peterson é fã das correntes designadas por “finanças comportamentais”, que pretende compreender as decisões na finança na base da psicologia dos agentes, e por “neuroeconomia” (o uso das neurociências para compreender o processo de decisão económica).

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