quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Espionagem: o cybersistema

Depois de grampeado, o papa Francisco fingiu, pelo porta-voz padre Lombardi, ser a espionagem coisa vetusta e desimportante. De fato, trata-se de fenômeno antigo e praticado pelos sumérios, por volta do ano 4000 aC. Talvez, a atividade de espião seja mais antiga do que a de prostituta. Na Idade Média, a república de Veneza usava a espionagem para evitar sabotagens nos portos, preparar a sua defesa contra a França e evitar ser transformada em Estado pontifício, tudo conforme desejado pelo papa Giulio II Della Rovere.



Quando da Guerra Fria, um 007 valia por um batalhão e as agências KGB, CIA e Stasi, enterravam a prinvacidade e se desesperavam com os agentes duplos. Em 1905, a escritora Emma Orczy lançou “A Prímula Vermelha” e abriu um filão literário novo, com a espionagem a gerar suspenses. Ian Fleming, depois de passar pelo serviço secreto britânico, criou, para o cinema, o agente James Bond, detentor do código 007. 




Com efeito, considerar a espionagem desimportante sempre foi sinal de tibieza. O Vaticano tem um núcleo de inteligência e problemas. Além da lavanderia bancária via IOR, proliferam os “corvos”, incluído o mordomo infiel Gabriele.



No Brasil e ao tempo de FHC, espiões travestidos de funcionários da embaixada norte-americana colocaram equipamentos de escuta ambiental no gabinete da presidência, conforme documentou e informou Carta Capital em matéria assinada pelo jornalista Bob Fernandes. Segundo Bob Fernendes, o 007 de nome Carlos Costa, do Nsa, descobrira que os serviços de limpeza no Palácio do Planalto eram terceirados e, aí, ficou fácil infiltrar. O único problema era a troca das baterias, de tempos em tempos.



Da minha parte, na condição de Secretário Nacional, encontrei, por acaso no Aeroporto de Manaus, um grupo de norte-americanos engravatados. Todos vieram me cumprimentar e deixaram cartões de visitas a revelar suas identidades de agentes da CIA, Nas e DEA. Em resposta à minha pergunta, esses 007 contaram que tinham estado na Floresta Amazônica, no lado brasileiro, para colher informações, inclusive sobre narcotráfico. A representação que encaminhei, pelo Gabinete de Segurança Institucional e com intuito de alertar o presidente FHC, não deu em nada. O caso chegou à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados (CREDN) que resolveu me ouvir, mas a sessão, por manobra parlamentar tucana, restou adiada sine-die.



Como fachada para bisbilhotar,--- e como se viu na presidência de Ronald Reagan--, usava-se a “war on drugs” (guerra às drogas). Depois do trágico 11 de setembro, o terrorismo virou justificativa para encobrir interesses políticos, militares, econômicos e comerciais. Para se ter uma idéia, chegam mensalmente a Maryland, na sede da Nsa, 180 milhões de informações. E um banco com 850 bilhões de dados originários em bisbilhotagens é servido pelo poderoso motor de busca X-Key-Score. 



O
sistema geopolítico de espionagem eletrônica dos EUA é conhecido por “Five Eyes” (Cinco Olhos). Na verdade, virou um clube de espionagem anglofônico a envolver EUA, Grã Bretanha, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Os “Cinco Olhos” são reforçados por aquele dos aliados: Nato, União Européia, França, Alemanha, Grécia, Itália, Espanha, Japão, Coréia do Sul, Israel, México, Índia, Colômbia, Chile e Brasil. São considerados inimigos, e bem olhados, a China, Rússia, Irã, Coréia do Norte, Paquistão, Síria e Cuba. Como advertiram as grampeadas presidenta Dilma e a chanceler alemã Merkel, houve quebra de confiança a partir do momento em que os 007, a serviço dos “Cinco Olhos”, espionaram os aliados. Desconfiança grave pois o objetivo primário desse clube de nome “Five Eyes” é detectar os estados nacionais com capacidade de reduzir a influência americana e os inimigos que representam uma ameaça, real ou potencial, aos cidadãos e aos militares: aí é que entra o terrorismo internacional.



Embora 35 líderes tenham sido bisbilhotados, apenas Dilma e Merkel protestaram à altura: Dilma na ONU e a suspender a sua visita oficial aos EUA e Merkel na União Européia e por telefonema a Obama. As duas apresentaram um projeto de resolução às Nações Unidas. A resolução, depois de dantescos espetáculos protagonizados pelos EUA característicos de violações à segurança de Estados Nacionais e aos direitos naturais da pessoa humana em face da quebra da privacidade, deverá ser aprovada.


Como adverte Marvin Cetron, um dos maiores especialistas no tema espionagem, “é muito mais difícil regrar a espionagem, até diante de novas tecnologias que surgirão, do que limitar a difusão e o tráfico de armas atômicas”. Marvim falou,também, sobre o celular griptografado de Merkel e visou que as agências norte-americanas, há mais de 8 anos, conseguem decodificar sinais. 



Dilma Roussef fez questão de ressaltar na ONU que o seu governo, diversamente daquele de FHC, não admite espionagens e bisbilhotagens. Merkel, --que chegou à última reunião da União Européia a bordo de um Audi de placa BGI-007 só vai se acalmar, como circulou pelos corredores do palácio de Bruxelas, quando a Alemanha virar o sexto olho do sistema, deixada a condição de aliado.



Pano rápido. A definição de espião, contida na Convenção de Haia de 1907, já está superada e o mundo democrático está a dever muito a Julian Assange e Edward Snowdwn.


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